segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Cap. 1

Aquela tinha tudo para ser mais uma noite cretina em South Lake. O relógio da igreja marcava onze e quarenta e cinco. Morcegos trocavam de árvores. Eu, no banco da praça, dedilhava o violão quando o padeiro gritou:

— Não tem o que fazer, maledeto?

O velho Clint, tatuado no meu braço, jamais aceitaria o desaforo do italiano. Pisei no skate, violão em punho. A mão tocou um Lá menor ao mesmo tempo em que o pé deu impulso. O ronco das rodinhas contra o asfalto era acompanhamento. Em frente à casa paroquial, um vulto. No poste, “Os Bastardos, pela primeira vez em South Lake”. A milonga e o skate serpenteavam na avenida principal. Vento nas canelas. Cada impulso, novo compasso. Uma van preta estacionada em frente à pousada. Quatro postes e o neon “outh Lake Club”. Do outro lado da rua, o lago. Nenhuma casa no raio de dois quarteirões.

O tênis fincou o asfalto. Violão embaixo do braço. Só mesmo mato adentro para ter alguma paz. Peguei o skate pelo truck. O neon pintava de vermelho os primeiros eucaliptos. Depois das árvores, a lua prateava a areia e o lago. Sentei. O “S” do neon tentou acender. Mi maior no violão. O primeiro sucesso dos Bastardos, Cemitério Maldito. Quando o último acorde viajou sobre as ondas, as nuvens se aglomeravam. O boné voou, rolou na areia. Cabelos no rosto. No céu quase todo encoberto, a lua era um holofote apontado para o centro do lago borbulhante. E eu sem a menor ideia do que seria o rastro vermelho que emergia igual a um rabo de baleia.

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