terça-feira, 1 de março de 2011

Cap. 2

A televisão iluminava o rosto miúdo de Miles. Boca aberta, o fio de saliva acabava no ombro. O cabeludo ruivo entrou na recepção. Óculos escuros redondos. Estojo de guitarra na mão. Tocou a sineta. Miles resmungou. Insistiu a sineta. Os olhos de Miles abriram embaçados. O polegar e o indicador removeram a remela.

— Te conheço? — Miles contraiu os olhos.

O cabeludo apontou para o cartaz no mural.

— Steve Harris?! — mãos na cabeça. Virou uma folha de formulário — Um autógrafo, por favor.

O braço cruzou a tampa do balcão. Puxou a gola de Miles.

— Olha, moleque, é tarde pra tietagem — o antebraço trazia o rosto do demônio tatuado — Passa a chave.

— Desculpe, é que mal posso acreditar — disse Miles.

— Não foi escolha minha — soltou a gola. — Essa espelunca é a única opção na cidade.

Miles arrumou a camiseta e entregou as chaves do melhor quarto. Steve subiu as escadas. A lâmpada do corredor, queimada. Antes de entrar no quarto, escutou: “Henry Salt!? Joe Barry!? Oh, meu deus”. Suspirou. Virou a maçaneta. Cama de solteiro. Cobertor colorido. Forro mofado. Armário duas portas. E nenhum espelho. Imagine o pior quarto, então. Ao lado da pia, a janela aberta. Steve largou a mochila na cama. Deixou um trilho branco, ao passar o dedo no marco da janela. Lá fora, a igreja, a praça, a avenida central. Cidade pequena nunca muda. Uma rajada de vento bateu a persiana. Steve trancou a janela.

Nenhum comentário:

Postar um comentário