A porta da casa paroquial entreaberta. John McHurley tirou o chapéu. Os cabelos revoltos eram palha em chamas. Sons de cacos. McHurley ergueu a sobrancelha e seguiu pelo corredor a passos leves. Empurrou a porta do banheiro. Nada. O fogão arredado para o lado da pia. A mesa em diagonal. Um dos bancos, de pernas pra cima. Uma trilha de sangue no chão.
— Padre Bianco? — gritou McHurley.
A porta da cozinha para rua, aberta. Uma sombra humana projetada no chão. Um braço atravessou o vão da porta. Escorou a vassoura, a pazinha. Solas grossas no capacho.
— Desculpe o atraso — disse Padre Bianco. Puxou o fogão para a posição original. — Precisei dar um trato na casa.
Pelo jeito o padre não se deu muito bem com o escuro, disse McHurley. Machucou o pé nos cacos? Padre Bianco contou que não estava sozinho. Dois antigos moradores não o deixaram dormir.
— O povo fala de espíritos zombeteiros na região — disse McHurley. — Nunca acreditei.
— Espíritos não, ratos — Padre Bianco sacudiu as mãos mostrando o tamanho dos bichanos. — E tiveram o que mereciam.
McHurley coçou a barba. O chapéu amassado contra a camisa. Não imaginava tanta frieza num homem de Deus.
— A lei divina é a lei da vida: o maior come o menor — Padre Bianco arrastou a mesa de refeições.
— Come?
Modo de dizer. Desviraram o banco. McHurley o empurrou até tocar o pé da mesa. Ellen tinha costume de servir o almoço pontualmente. O leitão estava no forno. Dois minutinhos, pediu Padre Bianco. Tempo de lavar as mãos. Saiu para o banheiro. Água na louça da pia. McHurley seguiu os pingos de sangue. Iam do fogão à mesa de refeições. Levantou a barra da tolha. Embaixo da mesa, o rabo de um dos bichanos. Coçou a barba.
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