— Ali onde está a fogueira, montamos a barraca. O cobertor xadrez que mamãe emprestou cobria Lauren até as orelhas. Acho que o medo de você ou o pai de Lauren descobrir o acampamento me tirou o sono. Peguei o violão e dei uns cinco passos para longe da barraca. Sentei na areia próximo a linha úmida delimitada pelas ondas e comecei a dedilhar. Naquela noite, o céu sustentava mais estrelas do que podia. Um rastro prateado passou longe, em direção a Other Lake. Fechei os olhos e pedi para ser eu aquela estrela. Senti um cutucão no pé. Era um sapo gorducho, do tamanho de uma bola de futebol. Tinha a pele áspera e a voz de Louis Armstrong. Perguntou se eu estaria disposto a esquecer South Lake em troca de sucesso. Apertei a pata do sapão, sair da cidade era tudo o que eu queria. Antes de ir embora, o sapo me acompanhou cantando Sympathy for the Devil. Pela manhã, Lauren não estava na barraca. Voltou para casa com medo de a mentira ser descoberta, pensei. Embaixo do cobertor, apenas uma folha de caderno com a letra de Cemitério Maldito e o endereço da gravadora Metrópole. Parti de South Lake e o sucesso veio no rastro. Outras letras apareceram ao lado da minha cama. Era só empunhar o violão e as melodias surgiam como se uma força maior tivesse as implantado na minha cabeça. Só ontem à noite, em meio à confusão do show, descobri o que de fato aconteceu com Lauren. Estava presa pelo sapo o tempo todo. E por isso estou aqui, para quebrar a maldição e levar Lauren comigo.
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