— Ei, gorducho — gritou Harris. Acenava com o bloquinho. — A música está pronta, faça Lauren voltar ao normal.
Os olhos do sapão eram duas finas linhas.
— Então cantem. Preciso ter certeza que não se trata de um plágio.
Puxei o ritmo estalando os dedos. Harris cantou.
Os dias passam, horas voam
e os meus problemas estão no mesmo lugar.
Fechar os olhos de nada adianta,
pois na escuridão vão me acompanhar.
Eu sinto a brisa do lago,
o sol reflete em mim.
E os meus problemas
não parecem ter fim.
Acostumei a estar sempre correndo,
em nenhum momento posso me acomodar.
E no embalo eu pulo o muro,
faço um blues pra não me entregar.
Eu sinto a brisa do lago,
o sol reflete em mim.
E os meus problemas
não parecem ter fim.
Ao terminarmos o segundo refrão, o sapão havia dobrado de tamanho. A pele esticada como um balão de aniversário e as esferas dos olhos saltadas do rosto. Eu, Steve Harris e a garota azul olhávamos estáticos para o sapão que retorcia a face tentando falar:
— Ok, vo-cês ven-ce...
Foi pedaço de sapo para todo o lado. Uma gosma verde que cobriu os eucaliptos e tudo mais à beira da praia, inclusive nós três. Num mesmo impulso, eu e Harris nos desvencilhamos da gosma e colocamos as mãos em busca da garota azul. As mãos de Harris descobriram o rosto de Lauren. Tinha a pele tão branca quanto uma pena de pato. Ao abrir os olhos azuis, reconheceu Harris.
— Que zoeira é essa aqui, mocinho?
Abraçaram-se como dois ursos. O jogo estava definido, partiriam juntos pelo mundo de show em show e eu ficaria enterrado para o resto da vida em South Lake. Virei as costas e sai em direção ao clube.
— Onde pensa que vai? — disse Lauren. — Agora somos um trio.
O arco da minha boca deve ter chegado as orelhas. Recebi um abraço de orangotango e o beijo de uma sereia me engoliu da realidade. Quando voltei a mim, alguns caipiras saiam de traz das árvores. Escutei a voz de McHurley gritar:
— Revirem cada metro de praia, o maldito lobisomem tem que estar em algum lugar.
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